sábado, 28 de novembro de 2009

A ARTE DE SER AVÓ



Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. O neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo... Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor.
E então um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis — aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; Sim, tenho certeza que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice.
Já a avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto.Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia.
Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café — café! — mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser e até fingir que está discando o telefone.Riscar a parece com o lápis dizendo que foi sem querer — e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna.
A alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. Você ainda tem o direito de sentir orgulho. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto.E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade e apoio... Além é claro das compensações....Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho — involuntariamente! — bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois, o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó?Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.
Texto de Raquel de Queiroz
Descoberto no momento de minhas reflexões como avó
e achei que só faltava musica para ser um hino dedicado a todas as avós
por isso quis aqui partilhar com quem quiser ler.
Vóvó Nana

2 comentários:

Unknown disse...

Eu li e gostei muito do que li. acho que deve ser mesmo assim. Não há nada mais bonito que o sorriso de uma criança para nós. E então se for neto, deve ser qualquer coisa de especial.
Um beijinho para a vóvó nana e netinha Lara da
Biba

vóvó Nana disse...

Olá Titi Biba...
Já há muito que não vinhas ver os bonecos e as babadices da minha vóvó,pois quanto á musica talvez saia á Titi Biba porque a vóvó,gosta de cantar mas com a idade já lhe está a fugir a voz,coisas de cota...
Um choxinho muito apertadinho para ti e temos de nos ver este Natal.
Tchau e vem cá sempre fazer a tua visita.